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Meu querido bicho estranho
Animais de estimação exóticos são considerados dóceis e ótimos companheiros para quem tem pouco espaço em casa
Por Guilherme Torres
Para a Revista Encontro
Todo mundo adora ter um bichinho de estimação em casa. Eles alegram o lar, fazem o papel de companheiros e até são comprados por recomendação médica. Porém, o caso de amor entre homem e animal não fica restrito aos bichinhos domésticos que todos estão acostumados como cachorro, gato, passarinhos ou peixes. Mais do que se imagina, muita gente prefere algo diferente, exótico, porém o carinho e afinidade, eles garantem, são o mesmo. Para esses fãs dos animais atípicos, cuidar de cobras, iguanas, hamsters, furões, pássaros, jabutis, tartarugas, chinchilas e muitos outros é uma tarefa divertida, que atrai curiosos, e divide opiniões e gostos dentro de casa.
Porém um estudo alerta para o cuidado que animais domésticos exóticos e silvestres requerem. Algumas vezes eles podem representar um risco de saúde para as crianças e adultos com sistema imunológico deficiente. Os pediatras recomendam que as famílias com crianças com menos de cinco anos particularmente vulneráveis evitem ter animais em casa. Embora tê-los possa ser positivo para os pequenos, um grande número deles como as tartarugas e os hamsters podem propagar doenças, bactérias e parasitas.
Os hamsters, que são animais exóticos provenientes da África e Ásia, foram batizados pela garota de Lola e Dori. Apesar da mãe não ter aprovado a compra em um primeiro momento, depois elas ganharam a simpatia de todos em casa. “Antes ela torcia o nariz, agora já passa a mão e brinca”. A manutenção e cuidado são mais simples do que com um gato ou cachorro. Uma vez por semana, Mariana troca a serragem da gaiola onde eles vivem. Já os alimentos são renovados diariamente. A dieta é a base de frutas e biscoitinhos.
Apesar dos hamsters não terem necessidade de passear, ela solta a dupla em casa, mas sem tirar o olho deles. “É divertido, eles correm a casa toda, além disso, me fazem companhia, pois sou filha única” conta a menina que ressalta ainda a vontade quase unânime dos colegas de classe de ter um bichinho diferente “quem não tem acha fofo e quer ter, porém muitos pais não deixam”.
Já Júlio Meiron, 28 anos, artista plástico, optou por algo ainda mais exótico e talvez perigoso na opinião de muitos. Desde 2005 ele tem uma jibóia fêmea de 1,70m, batizada de Hedwig. A compra do animal de tipo silvestre surgiu quando ele decidiu usar uma cobra para apresentar seu trabalho de conclusão de curso em artes plásticas na Universidade de São Paulo (USP). Júlio conta que não vê perigo algum em ter um animal de estimação desses. “Nossa relação tem afeto, mas não é como ter um cachorrinho. É mais como ter um peixe, porém com contato físico”. O artista plástico mora com mais dois amigos, e conta, que eles já se acostumaram com a companhia da cobra, que ele deixa solta às vezes, apesar dos fatos inusitados. “Quando minha amiga veio morar comigo, a jibóia tinha fugido. Naquela época, ela ficou morrendo de medo de ter um encontro inesperado pela casa. A jibóia ficou desaparecida por uma semana, depois um condômino do prédio a viu passeando do outro lado do muro, na casa vizinha. O vizinho chamou os bombeiros e só fui pegar a cobra de volta no Instituto Butantã”.
Apesar de não ser venenosa, a jibóia já picou o dono e o amigo “Ela só come camundongos vivos, um por semana, e se ficarmos com o cheiro deles nas mãos ela pode confundi-las com comida e atacar, é instinto”. Com seis anos de vida, Hedwig já teve até direito a seus 15 minutos de fama. Por Júlio ser artista plástico e participar de exposições, ele a levou para um de seus trabalhos no Senado, em Brasília, na época em que o Renan Calheiros era presidente da casa. “Expus uma escultura de acrílico transparente (na verdade, o terrário que projetei para Hedwig morar) e, na abertura da exposição, levei a jibóia e a coloquei lá dentro, causando um imenso tumulto de políticos, público e jornalistas. Hedwig foi vista como uma crítica aos escândalos de corrupção no Senado, foi uma forma de protestar sobre a necessária renovação do congresso, já que a cobra é um animal que troca de pele. Claro que acabei expulso da exposição” conta rindo o artista plástico.
Júlio diz ainda que gosta de tudo no animal. “O fato de ela não ser tão agitada e não dispender tanta energia é ótimo. Ela transmite emoção, mas de outras formas. Hedwig adora ficar perto do corpo quente da gente, já que ela é um animal de sangue frio”.
A cobra foi comprada em um pet shop de São Paulo. “Ela já vinha com licença porque, na época, era permitido vender jibóias nascidas em cativeiros por estabelecimentos registrados. Hoje este comércio está proibido, mas, para quem comprou na época em que não estava, pode continuar com o animal” destaca.
Casados há quatro anos, Karina Monteiro, 33 anos, enfermeira e Alexandre de Magalhães, 37 anos, virologista, ainda não tem filhos, porém criam três simpáticas chinchilas, que são consideradas as crianças da casa. Onofre foi o primeiro, um presente do pai de Alexandre, que tem criação de chinchilas, após a morte do animal, o casal decidiu adquirir outro, tamanho foi o afeto criado com a espécie. “Gostamos muito e compramos uma fêmea , a Bony, depois nasceu a Lilo e agora ganhamos um macho, o Rudiny. As chinchilas são muito dóceis, carinhosas com o dono, mas levam um tempinho para se acostumarem. ao ambiente. Elas não mordem, apenas mordiscam levemente para terem contato com a gente, atendem pelo nome e pedem carinho. Além disso tomam banho em carbonato de cálcio três vezes na semana e são animais sem cheiro e muito limpinhos”. A única dificuldade em criar um animal exótico é encontrar um veterinário que entenda do bicho, ressalta Karina, “quando adoe ce é um transtorno”.
O trabalho de Pablo funciona como um suporte para quem tem animais diferentes “Aqui nós trabalhamos com assistência para quem possui esse tipo de pet em casa, orientando o manejo e, especificamente, na questão clínica que é pouco conhecida pela maioria dos criadores”.
O veterinário ainda dá dicas de como comprar e cuidar de um animal exótico ou silvestre. A primeira regra é sempre verificar se o animal apresenta nota fiscal e conferir, no caso de aves, se a anilha fixa no pé corresponde a que está na nota, além de adquiri-los de local idôneo. Na dúvida, vale checar no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sobre o criatório. “Caso contrário a pessoa pode estar cometendo um crime tendo um animal sem origem comprovada, prevista na Lei de Crimes Ambientais, contra a fauna”. Mas para quem já tem um animal silvestre em cativeiro sem licença ou nota fiscal, a dica é primeiramente cuidar bem do bicho, fornecendo a ele alimento e acomodação adequados e, sobretudo, não adquirir outro, sem a devida permissão, autorização ou licença do instituto.
Já com relação aos cuidados com os bichinhos, Pablo ressalta que é importante saber sobre a biologia da espécie que se está adquirindo. Ler sobre os aspectos da vida livre como hábitos sociais, nutrição e tipo de ambiente onde ocorrem.
Como na maioria das vezes são animais que não expressam muita emoção, para saber quando estão doentes ou a hora certa de levar ao veterinário deve-se monitorar o interesse deles pela alimentação, condição corporal, fezes e pele. Uma consulta anual com um especialista é recomendada para ser realizado exame parasitológico.
Sobre a relação com os bichinhos diferentes, Pablo explica que animais exóticos são excelentes companheiros para crianças e para quem mora em apartamento. “Eles normalmente apresentam hábitos noturnos, estando mais ativos exatamente no período em que a família está em casa”. Outra dica para se ter sempre um animal manso em casa é criá-lo desde poucos dias de nascido “Quando a pessoa alimenta o animal como se fosse uma mãe, ocorre um processo denominado de imprinting que consiste em uma ‘impressão’ no cérebro do animal de que a pessoa que o alimenta pertence à mesma espécie, ocorrendo uma interação muito maior entre animal e família”.
Além de veterinário, Pablo também tem seu animalzinho exótico. Desde o começo do ano ele cria um simpático rosela, uma espécie de pássaro, originário da Austrália. Ele conta que a ave já faz parte da família. “Já tivemos calopsita, chinchilla e coelho. Mas a única que aprendeu a assobiar o hino do Corin thians foi este!” conta rindo.
O profissional alerta ainda que quem compra animal sem procedência pode estar matando, indiretamente, em torno de nove outros animais. Segundo dados da WWF, o Brasil é um dos países do mundo que mais exporta animais silvestres ilegalmente. É um negócio que movimenta mais de 1 bilhão de dólares e comercializa cerca de 12 milhões de animais anualmente. “Para os traficantes, um animal é como se fosse um objeto, morreu, joga fora e retira outro da natureza”. Além disso, pessoas que desejam criar animais exóticos ou silvestres, devem procurar um profissional habilitado para registrar um criatório legal em sua propriedade, podendo abrigar um ou mais animais encaminhados pelo IBAMA que sofreram com o tráfico. Hoje, o instituto permite a criação mantenedora de qualquer tipo de animal, como macacos, aves, répteis e outros, desde que, tenha um viveiro que atenda as necessidades da espécie e um responsável técnico.
Animal silvestre
São pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham a sua vida ocorrendo naturalmente dentro dos limites do Território Brasileiro.
Exemplos: mico, morcego, quati, onça parda, tamanduá-bandeira, ema, papagaio, arara, canário-da-terra, jibóia, jabuti e outros cujo acesso, uso e comércio é controlado pelo Ibama.
Animal exótico
Sua distribuição geográfica não inclui o território brasileiro. As espécies ou subespécies introduzidas pelo homem, inclusive domésticas, em estado selvagem, também são consideradas exóticas.
Exemplos: leão, zebra, elefante, urso, ferret, javali, tipos de tartatugas, cacatua, arara-da-patagônia, escorpião-do-nilo, entre outros.
Animal doméstico
São animais que através de processos tradicionais e sistematizados de manejo e melhoramento zootécnico tornaram-se domésticos, possuindo características biológicas e comportamentais em estreita dependência do homem.
Exemplos: gato, cachorro, cavalo, vaca, porco, pato, galinha, carneiro, canário-belga, periquito-australiano, escargô, mandarim, agapornis, entre outros.